Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de 23 de Outubro de 1935.

A Câmara Municipal de Vila do Rei dirigiu-se à Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, informando que não possui bandeira, mas que tem armas esculpidas na frente do edifício da Câmara, iguais ao selo branco que usa e de que envia provas.

Este selo, mal ordenado e sem simetria, tem à esquerda do observador um pequeno terrado em diagonal, querendo representar a encosta de um monte, no qual assenta uma árvore. Do lado direito do observador, tem o escudo das armas nacionais encimado por uma coroa real aberta e por baixo um crescente.

Na composição destas armas não há o menor respeito pelas regras da heráldica. As armas nacionais nunca podem ser colocadas ao lado. Devem ocupar sempre o lugar central e de honra, ou seja, ao centro do escudo ou em chefe. O crescente, quando é só um, tem de ocupar o chefe ou o centro e a árvore nunca pode sair de um terrado inclinado.

Além destes erros, que lhe tiram todo o aspecto heráldico, não representam estas peças os valores e a história desta Vila.

Vila de Rei, que tem foral desde o reinado de D. Dinis, pertencia ao Rei e foi, em 1306, dada à Ordem do Templo, passando depois para a de Cristo, quando a Ordem do Templo se transformou naquela Ordem. Mais tarde, passou novamente para a Coroa e depois para a Casa do Infantado, constituindo sempre uma Comenda da Ordem de Cristo.

Foi destruída e incendiada pela invasão francesa, tendo sido abandonada pelos habitantes que escaparam, só la voltando quando se foram os franceses.

Foi uma verdadeira mártir esta Vila, isto, no que respeita à parte histórica.

No que diz respeito aos valores regionais, Vila de Rei é também notável. Diferentes ribeiros e regatos cortam a região, tornando-a muito fértil, os quais vão desaguar ao Rio Zêzere e às ribeiras de Codes, Codegoso, Isna, Costelim, Várzeas, Azenha e Aveleira.

Aqui abunda o azeite, castanha, landes, milho, trigo, pinho, cortiça, vinho, caça, carvão, tudo enfim.

Determina a circular do Ministério do Interior, de 14 de Abril de 1930, que as armas municipais sejam representativas da história e riquezas locais, nelas devendo figurar a vida e circunstâncias do povo que caracterizam, devendo ser simétricas e só podendo incluir referência às armas nacionais, quando facto de alta importância o justifique.

Ora, Vila de Rei, além do nome que, enfim, já marca que foi do Rei, como se verifica, de facto, na sua história, foi da Ordem do Templo e, depois, da Ordem de Cristo, passando novamente para a Coroa mas continuando a constituir uma comenda desta última Ordem.

Portanto, com todos estes elementos, propomos que as Armas, bandeira e selo de Vila de Rei sejam assim ordenadas:

ARMAS – De prata, com uma quina antiga do Portugal acompanhada por uma cruz da Ordem do Templo e por uma cruz da Ordem de Cristo. Em chefe de vermelho, uma palma de ouro em faixa. Em contrachefe, três faixas ondadas, de azul. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres "Vila de Rei" de negro. –

BANDEIRA – Esquartelada de amarelo e de azul. Cordões e borlas de ouro e azul. Haste e lança douradas. –

SELO – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres "Câmara Municipal de Vila de Rei". –

Como as peças de principal representação nas armas são de ouro e de azul, a bandeira é amarela (que corresponde ao ouro) e azul. Quando destinada a cerimónias e cortejos, deve medir um metro quadrado e é bordada em seda. Quando destinada a ser hasteada, é de filel, com as dimensões convenientes e pode dispensar a inclusão das armas.

Foi indicada a prata para o campo das armas por ser o metal que heraldicamente significa humildade e riqueza.

A quina e as Cruzes são das cores próprias.

Os rios, que representam aqui a fertilidade da região, são representados, conforme está determinado, por faixas ondadas de azul e de prata. O azul significa heraldicamente: zelo, lealdade e caridade.

O vermelho do chefe, significa guerras, vitórias, ardis, força e audácia.

A palma, representando o sacrifício sofrido por Vila de Rei durante as invasões de Napoleão, é de ouro, metal que na heráldica significa nobreza, fé e constância.

E assim temos bem representada a história, as riquezas locais e a índole dos naturais desta Vila.

Se a Câmara Municipal de Vila de Rei concordar com este parecer deverá transcrever na acta a descrição das armas bandeira e selo, para enviar ao Sr. Governador Civil uma cópia, acompanhada de desenhos rigorosos da bandeira e selo, pedindo-lhe para remeter todos esses elementos à Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, para, no caso do Sr. Ministro aprovar, ser publicada a portaria respectiva.

Sintra, Agosto de 1935.

Affonso de Dornellas.

(Texto adaptado à grafia actual)

Fonte: Processo do Município de Vila de Rei (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/VLR/UI0009/00093).